Ocupação antrópica e problemas de ordenamento
Bacias hidrográficas
Aspectos geomorfológicos dos rios
A água é, de entre todos os agentes naturais que actuam sobre a superfície da Terra, aquele que mais modificação provoca nas paisagens.
Quando as zonas emersas dos continentes recebem água proveniente da atmosfera por precipitação dda chuva, granizo ou neve, parte dessa água infiltra-se no solo e outra parte, quando em excesso, pode começar a correr à superfície.
Grande parte dessa água constitui os rios, que são parte integrante da hidrosfera e constituem sistemas abertos que, de alguma forma, estabelecm relações com os restantes subsistemas terrestres.
O leito normal de um rio é o terreno por onde correm as águas em situações climáticas normais. Quando a pluviosidade é muito abundante, o fluxo de um rio pode aumentar e subir vários metros, com consequente inundação das margens. A parte das margens susceptível de sofrer inundações designa-se por leito de cheia. Este leito mantem-se enquanto o fluxo de água for elevado. Pelo contrário, quando a quantidade de água diminui, em consequência de uma seca prolongada, ocorrerá a formação de um leito de estiagem.
Geralmente um rio não constitui uma estrutura isolada. Conjuntamente com outros rios forma uma rede hidrográfica. Esta rede é formada pelo rio principal e pelos rios, ribeiros e riachos tributários.
A área drenada por um rio e por todos os rios da sua rede hidrográfica tem o nome de bacia hidrográfica.
A actividade geológica de um rio pode ser resumida a três processos:
- Erosão - ocorre o desgaste e remoção dos materiais rochosos constituintes do leito de um rio;
- Transporte - a corrente de água transporta os detritos rochosos erodidos;
- Deposição - os materiais depositam-se provisória ou definitivamente em determinados locais.
Factores que contribuem para o desequílibrio das bacias hidrográficas
As cheias
As cheias são causadas por precipitações intensas e repentinas ou moderadas e prolongadas, podendeo ainda ser resultantes da fusão de grandes massas de gelo. O excesso de água faz aumentar o caudal dos rios, ocorrendo a inundação das áreas circunvizinhas. Estes fenómenos podem ter vantagens e desvantagens.
Vantagens:
- os sedimentos acumulados nas margens inundadas enriquecem os solos para a agricultura
Desvantagens:
- isolamento, evacuação e desalojamento de populações;
- destruição de propriedades e explorações agrícolas;
- submersão e/ou danos em vias de comunicação;
- interrupção no fornecimento de electricidade, água, gáse telefone;
- alterações no meio ambiente
A construção de barragens
O principal processo de fornecimento de materiais para o litoral encontra-se associado aos rios. Uma grande quantidade de sedimentos que se deposita no litoral é de origem fluvial. Ao serem construídas barragens, diminui-se o transporte de sedimentos para o litoral. Os sedimentos acumulam-se a montante da barragem e ocorre maior erosão a jusante.
A extracção de inertes
Os sedimentos que se depositam no leito e nas margens de um rio constituem uma importante matéria prima que está na base da construção civil, em particular a areia. Se a extracção destes sedimentos não for rigorosamente regularizada e fiscalizada pode gerar alguns prejuízos:
- alterações nas correntes e no equilíbrio do rio;
- redução na quantidade de sedimentos que chegam à foz de um rio;
- alteração da estabilidade das fundações de obras de engenharia;
- redução da fertilidade de algumas espécies de peixes; modificações irreversíveis a nível dos ecossistemas.
Zonas costeiras
Conceito e formas de litoral
As zonas litorais sempre constituíram espaços privilrgivados para actividades culturais, desportivas, económicas, turísticas e de lazer.
A faixa costeira totaliza 500 000 km de comprimento, mas alberga cerca de 80% da população mundial. No caso de Portugal, com uma linha de costa de aproximadamente 900 km, as principais cidades localizam-se nas proximidades do mar e nestas cidades são recebidos milhares de turistas, sazonalmente, é imperativo proceder ao estudo da zona costeira e ao se ordenamento.
A faixa litoral é uma faixa complexa, dinâmica, provida de mutabilidade e mobilidade, na qual actuam vários processos geológicos.
Na transição do continente para o oceano, é possível distinguir duas formas distintas: as arribas e as praias.
Uma costa em arriba é, geralmente, constituída por material rochoso consolidado, com inclinação acentuada e pouca, ou até mesmo nenhuma, vegetação. Predominam as forças de erosão, que originam um conjunto de formas morfológicas, tais como a plataforma de abrasão, as cavernas, os leixões e os arcos litorais.
As arribas podem ser consideradas vivas ou mortas. Quando ainda são modeladas pela água do mar, as arribas consideram-se vivas. Quando este fenómeno de erosão marinha da arriba deixa de ocorrer, esta é considerada morta. O fenómeno de erosão marinha provocado pelo rebentar das ondas de encontro às rochas tem o nome de abrasão marinha. Quando as ondas do mar transportam partículas, esta chocam contra o substrato rochoso, desgastando-o, agindo como se fossem uma lixa. Deste modo, o fenómeno é acelerado.
Por vezes, na base das arribas, é possível observar superfícies aplanadas e irregulares muito próximas do nível do mar, as plataformas de abrasão.
As praias são estruturas morfológicas onde ocorre a acumulação de sedimentos de variados tamanhos e litologias. Estes locais são mais frágeis do que as arribas, quer do ponto de vista geológico, quer do ponto de vista ecológico. Por vezes, é possível obsevar dunas litorais em algumas praias. Estas têm uma grande importância, pois impedem o avanço das águas do mar ara o interior dos continentes.
Evolução do litoral
As zonas do litoral não são estáticas, são zonas muito dinâmicas. O litoral evolui, algumas formas modificam-se, mudam de posição, e outras aparecem e desaparecem.
Actualmente, a dinâmica da faixa litoral é condicionada pela intervenção de diversos fenómenos naturais e por fenómenos antrópicos, estes últimos provocados pelo Homem.
De entre os fenómenos naturais, aos quais o Homem é alheio que não pode contrariar, anular ou modificar, destacam-se:
- a alternância de regressões e transgressões marinhas, como a descida e a subida do nível médio das águas do mar, respectivamente;
- a existência de correntes marinhas litorais variadas que, ao provocarem a erosão, o transporte e a deposição de sedimentos, condicionam a morfologia das costas;
- a deformação das margens dos continentes, em resultado de movimentos tectónicos que podem provocar a elevação ou o afundamento das zonas litorais.
De entre os fenómenos provocados pela acção do Homem, salientam-se:
- o agravamento do efeito de estufa provocado pelo excesso de produção de CO2 e outros gases em consequência da queima de combustíveis fósseis e da desflorestação. Este incremento na quantidade de gases provoca o aumento da frequência e intensidade dos temporais e o aumento da temperatura do nosso planeta, com consequente fusão das massas geladas e a expansão térmica da água dos oceanos;
- a ocupação da faixa litoral com estruturas de lazer e de recreio, bem como a implementação de estruturas pesadas de engenharia;
- a diminuição da quantidade de sedimentos que chegam ao litoral em consequência da construção de barragens nos grandes rios;
- a destruição das defesas naturais, como a destruição das dunas devido ao pisoteio, a construção desordenada de habitações, o arranque da cobertura vegetal e a extracção de inertes para a construção civil.
Espaços litorais em risco geológico - a erosão costeira
O litoral português não tem sido gerido da forma mais adequada. Cerca de 30% da sua extensão encontra-se seriamente ameaçada pelo avanço das águas do mar. São escassos os locais onde ocorre a sedimentação e muitos deles estão associados a obras de engenharia, construídas para esse efeito.
Nos locais ocupados por arribas, a submersão é reduzida, mas as rochas serão submetidas a maior erosão, o que conduzirá ao aumento da taxa de recuo das arribas vivas. Por outro lado, as praias constituídas por sedimentos, ao serem atacadas pelas águas, podem sofrer grandes modificações na sua morfologia, com sérias consequências económicas e sociais.
Medidas de prevenção
Face aos graves problemas de erosão costeira a que certas regiões estão sujeitas, é necessário efectuar intervenções de modo a promover a protecção e defesa destas áreas. As mais comuns em Portugal são as dragagens e as obras de engenharia, tais como os enrocamentos, os paredões, os quebra-mares, os molhes e os esporões. Muitas intervenções resolvem temporariamente os problemas, que acabam por ser transferidos para outros locais próximos.
Uma alternativa a estas obras de engenharia consiste na alimentação artificial das praias com sedimentos, sem criar perturbações na dinâmica local. Esta injecção de inertes, embora dispendiosa, é mais económica que as grandes obras de engenharia e menos agressiva para a paisagem, No entanto, em litorais muito energéticos, como é a costa ocidental portuguesa, para que a estabilidade seja alcançada, torna-se necessário recorrer à frequente alimentação em sedimentos.
Planos de ordenamento do litoral
De modo a diminuir a erosão e a combater a artificialização do litoral português, área de grande sensibilidade e fragilidade, procedeu-se à elaboração dos POOC - Planos de Ordenamento da Orla Costeira. Os POOC abrangem uma faixa ao longo do litoral, designada por zona terrestre de protecção, cuja largura máxima é de 500 metros, contados a partir da linha de máxima maré alta.
Estes planos de ordenamento de intervenção privada e pública têm como objectivos principais:
- ordenar os diferentes usos e actividades específicas da orla costeira;
- classificar as praias e regulamentar o uso balnear;
- valorizar e qualificar as praias consideradas estratégicas por motivos ambientais e turísticos;
- enquadrar o desenvolvimento das actividades específicas da orla costeira;
- assegurar a defesa e conservação da Natureza.
Zonas de vertente
As vertentes naturais, sobretudo quando apresentam um declive pronunciado, são locais onde a erosão pode avançar de forma mais rápida.
As alterações que se verificam numa encosta e a forma como ela vai evoluindo devem-se essencialmente a dois tipos de causas naturais:
- erosão hídrica;
- movimentos de terreno, também designados movimentos em massa.
A erosão hídrica corresponde a alterações que se processam de forma lenta e gradual, em consequência do desgaste da superfície do terreno provocado pelo impacto das gotas de chuva e pelo escoamento das águas ao longo das vertentes. Desta forma, os materiais arrancados à superfície das encostas são, quase sempre, de pequena dimensão e em quantidade reduzida.
Os movimentos em massa, pelo contrário, correspondem a situações em que é movimentado um grande volume de materiais sólidos, quase sempre de uma forma brusca e inesperada, ao longo de uma vertente ou de uma encosta.
Os movimentos em massa
Os movimentos em massa têm dois tipos principais de causas, as naturais e as relacionadas com a actividade humana.
Por sua vez, estas causas poderão estar rlacionadas com diferentes conjuntos de factores, nomeadamente:
- factores condicionantes - condições mais ou menos permanentes que podem favorecer ou não os movimentos em massa;
- factores desencadeantes - resultam das alterações que foram introduzidas numa vertente e podem despoletar um movimento em massa.
Factores condicionantes
- Força da gravidade;
- Características litológicas;
- Disposição do terreno, em particular a orientação e inclinação das camadas, ou da clivagem xistenta;
- Grau de alteração e de fracturação dos materiais rochosos.
Factores desencadeantes
- Precipitação (moderada durante um largo período de tempo ou intensa durante um curto período de tempo);
- Acção do Homem (ex.: destruição da cobertura vegetal);
- Ocorrência de sismos;
- Ocorrência de tempestades nas zonas costeiras.
Medidas de prevenção
1ª Medida - Estudo das características geológicas e geomorfológicas de determinado local, para avaliar o seu risco potencial para a ocorrência de um movimento em massa.
2ª Medida - Elaboração de cartas de risco geológico, onde se evidenciem as áreas com diferentes graus de probabilidade de ocorrência de movimentos em massa.
3ª Medida - Elaboração de cartas de ordenamento do território, com a definição das áreas onde possam ser implementadas as infra-estruturas para desenvolvimento das diferentes atividades da sociedade [zonas habitacionais, zonas agrícolas, zonas industriais, zonas de explorações mineiras, vias de comunicação, etc.].
Se a probabilidade de ocorrência de um movimento em massa for considerada elevada, pura e simplesmente, não deve ser autorizada, para aquele local, qualquer tipo de atividade humana que implique a construção de uma qualquer infra-estrutura. Trata-se de um loca! de risco geológico elevado.
Nos locais em que o risco geológico seja menor, poderão ser autorizadas atividades humanas mas, mesmo nestas condições, estas devem ser acompanhadas de uma análise cuidada que permita diminuir a probabilidade de ocorrência de um movimento de massa.
4ª Medida - Medidas de contenção